Livro cedido pela editora para resenha
ISBN: 9788567296340
Série: A Saga do Império, vol. 1
Tradução: Rui Azevedo
Ano de Lançamento: 2015
Número de Páginas: 464
Classificação: ♥♥♥♥♥
 Favoritado!
Sinopse: Mara, a filha mais nova da poderosa Casa dos Acoma, estava destinada a uma vida de contemplação e paz. Mas quando seu pai e seu irmão são mortos, sua vida muda de um dia para outro. Apesar do sofrimento, cabe a ela a tarefa de vestir o manto da liderança e enfrentar as dificuldades e os inimigos implacáveis. Inexperiente na arte de governar, Mara terá de recorrer a toda a sua força e astúcia para sobreviver no Jogo do Conselho, recuperar a honra da Casa dos Acoma e assegurar o futuro de sua família. Mas quando percebe que os inimigos que quase aniquilaram a sua casa vão voltar a atacar com fúria renovada, Mara só tem uma dúvida: será que ela, apenas uma mulher, ainda quase menina, poderá vencer em um jogo perigoso no qual seu pai e seu irmão falharam? 

Reymond Elias Feist é um escritor bem sucedido, bastante elogiado pela crítica especializada e por uma legião de fãs no mundo todo. Sua bibliografia, iniciada na década de 1980 com a Saga Riftwar, que aqui no Brasil foi editado pela Saída de Emergência com o título A Saga do Mago, em quatro volumes: Aprendiz, Mestre, Espinho de Prata e As Trevas de Sethanon. Em 1987, seguiu-se outra saga de repercussão mundial: A Saga do Império, com os volumes: A Filha do Império, A Serva do Império e A Senhora do Império; todos já publicados pela Editora Arqueiro, e vou falar do primeiro volume nesta resenha.

Janny Wurts, a coautora da série, é escritora e ilustradora, autora de livros de fantasia, entre eles a saga The Cycle Fire Trilogy (1984-1999), The Wars of Light and Shadow – dividido em 11 volumes entre os anos 1993 e 2011, além de três livros com histórias independentes e uma dezena de contos.

De início quero salientar que as capas dessa trilogia editadas no Brasil, estão maravilhosas, e as edições estão impecavelmente fantásticas. Essa, de A Filha do Império, descreve perfeitamente o drama vivido pela jovem Mara, regente dos Acoma. É exatamente ela lá no alto daquele torreão, na capa do livro, olhando para a vastidão das terras do seu governo, tão frágil e, ao mesmo tempo, tão poderosa.


E é assim que nós vamos encontrar Mara nos primeiros capítulos do livro, frágil, apavorada, sem saber para onde ir e o que fazer de sua vida. Mas, ao longo da narrativa, à medida em que vamos nos avizinhando do término deste primeiro livro, Mara nos surpreende pela evolução do seu caráter, pela firmeza das suas decisões e pela coragem ao enfrentar um mundo governado exclusivamente por homens, no qual as mulheres não tem outro papel a desempenhar senão o de servir ao seu senhor e marido, e procriar.

A saga de Mara no governo das terras dos Acoma me fez lembrar as histórias japonesas e chinesas, cheias de honra, fieldade, tradição familiar, veneração aos antepassados, senhores feudais, etc. Até mesmo os nomes das personagens e das localidades, bem como das suas tradições familiares, misticismo, cultura, alimentação e vestuário, evocam esta imagem dos povos asiáticos. Entre os tsumaris, no livro, é ponto de honra ao homem que desonrou seu clã cometer suicídio debruçando-se sobre a ponta de uma espada, como faziam os Samurais, no Japão feudal, cometendo harakiri. Outro aspecto interessante é a honra. Os servos vivem para o seu senhor, trabalhando para ele como se servissem a um deus. Qualquer palavra, gesto ou mesmo uma simples brincadeira, pode causar desonra que macula não apenas a si próprio, mas toda a sua família e o clã ao qual  pertence. Desonra que é passível de punições severas, e até mesmo da pena capital.

Esses aspectos da cultura oriental, introduzidos numa história de fantasia, trouxe uma roupagem nova e interessante para esse gênero literário. A narrativa dos autores Raymond E. Feist e Janny Wurts é maravilhosa. Os diálogos condizem com uma época medieval, ou feudal, assim como as descrições das vestimentas e localidades, os costumes, a religiosidade e o misticismo, tanto quanto o jogo político que se praticava antigamente nos grandes impérios. Tudo na narrativa nos convida a viajar no tempo, deslumbrando beleza, lirismo, encanto, docilidade, entremeados por códigos de conduta, honra e nobreza, ao mesmo tempo que nos defrontamos com o que de mais sórdido pode produzir a alma humana pela opressão, a ganância, a arrogância, o ódio e a inveja.

A Filha do Império é mais do que “mais um romance de fantasia”, é um romance feito com o que há de melhor numa escrita apaixonante, cheio de vida, vigor e verdades humanas. Nele identificamos os nossos valores e desvalores humanos, muitos dos quais são atávicos e ancestrais, como a cobiça, a sexualidade, a corrupção, a inveja, o egoísmo, o orgulho, a intolerância, a servidão… E, da mesma forma, valores nobres, como a misericórdia, a fé, a bondade, a igualdade, a tolerância, a esperança, a fraternidade, o amor.

Outro ponto a destacar são os personagens, os muitos personagens que compõem esse primeiro livro da trilogia, todos com ótimas caracterizações e excelentes construções de personalidade. Da mesma forma em que os autores construíram personagens marcantes, de personalidade forte, também capricharam no jogo político do império. Pode-se dizer que Mara joga uma perfeita partida de xadrez contra homens que não estão acostumado a perder, e muito menos para uma mulher, uma garota de 17 anos. Até mesmo os seus súditos têm que reformatar suas concepções de lealdade e fidelidade, ao tratarem agora não com o seu senhor, mas com a sua senhora.

E esse é o trunfo de A Filha do Império. Sem guerras titânicas, como vemos em O Senhor dos Anéis, ou incursões em terras mágicas e fantasiosas, A Filha do Império nos encanta por sua história, pelo jogo bem urdido de uma trama que prima pela disputa da inteligência, não da força bruta, em cujo palco Mara desabrocha de sua mente uma trama perfeita e incrível para conseguir salvar o seu reino e a honra de seu clã. Só por isso o livro vale a pena ser lido.

Mas, para quem acha que no livro faltou fantasia, os autores introduzem uma raça de seres míticos, em forma de formiga, os Cho-Jan, neutros nas disputas do império, e que são alvo dos olhares cobiçosos dos senhores feudais. Por isso e muito mais, A Filha do Império é um excelente começo para uma trilogia que promete muita, mas muitas surpresas. É ler e conferir. Recomendo muito!