Livro cedido pela editora para resenha
ISBN: 9788522031115
Tradução: Flora Pinheiro
Ano de Lançamento: 2015
Número de Páginas: 288
Editora: Agir Now
Classificação: ♥♥♥ 
Vivian Apple tem 17 anos e mal pode esperar pelo fatídico “Arrebatamento” — ou melhor, mal pode esperar para que ele não aconteça. Seus devotos pais foram escravizados pela Igreja há tempo demais, e ela está ansiosa para que tudo volte ao normal. O problema é que, ao chegar em casa no dia seguinte ao suposto evento, seus pais sumiram e tudo o que restou foram dois buracos no teto…  Ela está determinada a seguir vivendo normalmente, mas, quando começa a suspeitar que eles ainda podem estar vivos, Vivian percebe que precisa descobrir a verdade. Junto com Harp, sua melhor amiga, Peter, um garoto misterioso que tem os olhos mais azuis do mundo e informações sobre um possível paradeiro dos seguidores da Igreja (ao menos é o que ele diz), e Edie, uma Crente que foi “deixada para trás”, os quatro embarcam em uma road trip pelos Estados Unidos em pleno pré-apocalipse. Mas, depois de atravessar quilômetros enfrentando eventos climáticos bizarros, gangues de fanáticos religiosos vingativos e um estranho grupo de adolescentes autointitulado “Novos Órfãos”, Vivian logo vai entender que o Arrebatamento foi só o começo.

Vivian Contra o Apocalipse é o primeiro livro da autora Katie Coyle, uma norte-americana nascida em Nova Jersey, e que vive atualmente com o marido na Califórnia. Seu livro de estreia recebeu boas críticas, pontuado com 4 estrelas em média nos principais sites de livros online.

O segundo livro da série é Vivian Versus América, já editado nos Estados Unidos, com uma pontuação bem acima do primeiro livro na crítica especializada e na opinião dos leitores daquele país. E este fato, para uma escritora jovem e estreante, é um feito importante, pois aponta para uma carreira promissora com a perspectiva de futuros bons lançamentos. Da minha parte, adorei Vivian Contra o Apocalipse, e aguardo ansiosamente a continuação da série.

O livro é muito gostoso de ler, com uma narrativa jovem, agradável, de fácil leitura e assimilação. Os personagens possuem personalidades que vão se aprofundando ao longo da narrativa e de forma bem objetiva; nada daquelas encheções de páginas e mais páginas para falar de um único aspecto da vida passada do sujeito. Katie Coyle cria seus personagens com características comuns e reais; tão comuns e reais quanto os que encontramos em nosso dia a dia pelas ruas, no trabalho ou em um shopping.

Com um enredo gostoso de ler, a trama não poderia deixar por menos, versando com muita sensibilidade humana sobre o Arrebatamento Bíblico do Fim dos Tempos. Apesar do gênero distópico, ou YA, o livro está bem acima disto ao nos trazer uma narrativa que fala sobre pessoas comuns, seres humanos, vivendo uma experiência espiritual que as dividem entre o fanatismo religioso e a necessidade de continuar vivendo e seguir adiante.

A originalidade do livro não está no tema central que versa sobre o fenômeno do Arrebatamento, no qual os "escolhidos por Deus", ou os "crentes de coração puro" são levados para o Céu enquanto o resto da humanidade fica na Terra penando sob inversões climáticas, terremotos e a insanidade dos que ficaram. Mesmo porque, esse tema está na Bíblia e já foi explorado por outros autores, como na série Deixados Para Trás de Tim LaHaye e Jerry Jenkins; na trilogia O Clone de Cristo, de James Beauseigneur, entre outros; além de filmes do gênero, como: O arrebatamento I, II e III; a própria série Deixados Para Trás; a série de TV produzida pela HBO, The Leftovers, baseada no livro Os Deixados Para Trás, de Tom Perrotta, entre outros.

O mérito de Katie Coyle em usar esse tema como pano de fundo para seu livro foi desmistificá-lo e torná-lo humano através da visão da jovem adolescente Vivian Apple. Através da ótica narrativa de Vivian nós somos conduzidos por um mundo pós-arrebatamento em que o fanatismo religioso tornou-se a principal moeda que impulsiona as pessoas, pois crê-se que um segundo arrebatamento está prestes a acontecer. Desta forma, os que ficaram para trás se convertem ao credo do profeta Beaton Frick e sua bíblia (o Livro de Frick) que rege as novas diretrizes da fé desses novos convertidos, os Crentes.

Além do mais, a autora usa esse tema religioso para mostrar o quanto a intolerância religiosa pode afetar o relacionamento entre as pessoas, ao ponto em que homossexuais, por exemplo, não têm direito ao Arrebatamento; como se o Arrebatamento fosse coordenado pelos religiosos, e não por Deus.

Muito aquém dessas questões religiosas, Katie Coyle se preocupa profundamente em tecer sentimentos e valores humanos em torno de conceitos que, cada vez mais, estão caindo em desuso nos dias correntes, como a amizade, o amor à família, o companheirismo, o perdão, o respeito entre as pessoas.

Vivian é o melhor que há no livro. Filha única, ela ama os pais e os amigos. Ainda está confusa sobre tudo o que está acontecendo, mas tenta fazer tudo certinho para seguir as novas regras que rezam o Livro de Frick. O arrebatamento dos pais e o afastamento dos amigos forçam Vivian a amadurecer e a buscar um sentido para tudo o que está acontecendo no mundo pós-arrebatamento, mudando as suas atitudes e o seu modo de ver as regras canônicas criadas por Beaton Frick.

Em suma, o livro é muito legal, emocionante, com um profundo enfoque na importância do amor, da amizade, do sentimento humano e dos valores simples da vida. Adorei!