O Clone de Cristo
J. R. Lankford
ISBN: 9788567296081
Tradutor: Laura Vilaça
Ano: 2014
Páginas: 384
Editora: Saída de Emergência Brasil
Pontuação: ♥ ♥ ♥   
O Clone de Cristo é uma história fantástica sobre uma experiência secreta que pode mudar o mundo: a tentativa de clonar Jesus Cristo a partir do Santo Sudário. O Dr.Felix Rossi é o chefe da pesquisa, um conceituado cientista obcecado com duas perguntas: Será que o tecido do Sudário contém mesmo o sangue de Cristo? E o DNA ainda estará intacto? Apesar do caráter sigiloso do experimento, forças obscuras tentam impedi-lo e Rossi não tem tempo a perder: precisa encontrar uma mulher para gerar a criança. Esta trama policial arrepiante nos leva numa viagem inesquecível da alta sociedade nova-iorquina aos bares irlandeses, das igrejas do Harlem à Catedral de Turim. Uma narrativa bem construída sobre laços familiares perdidos, um homem à procura de Deus, uma mulher em busca de um sentido para a própria vida e uma inesperada história de amor.  

Inicialmente fico muito feliz pela Editora Saída de Emergência Brasil estar trazendo ótimos títulos para publicação, como O Clone de Cristo. Eu gostei bastante da capa do livro, que ficou espetacular (aliás, todas as capas dos livros da Coleção Bang estão maravilhosas). A diagramação e o layout ficaram perfeitos. A tradução de Laura Vilaça ficou ótima. Aguardo ansiosamente pelos próximos lançamentos da editora, inclusive a continuação deste livro.

Bem, por aí já deu pra perceber que eu gostei de O Clone de Cristo. Sim, adorei o livro. É um daqueles livros que se pode dizer que é uma grata surpresa. Confesso que comecei o livro, logo nas primeiras cinquenta página,s achando que não passaria de mais uma daquelas histórias de conspirações e mistérios envolvendo seitas secretas, assassinos a mando da Igreja, corridas para provar isso e aquilo enquanto se tenta manter o couro intacto no fogo cruzado. Bom... Ainda bem que eu me equivoquei.

Por isso, quero dizer aos adeptos (ou àqueles que não gostam tanto assim) do estilo Dan Brown, que O Clone de Cristo é tudo menos “danbrowniano”! Felizmente a escrita de Jamilla Lankford prima por um gosto mais refinado e um bom senso mais original, trilhando um caminho menos conspiratório e saturado de clichês ornados de seitas disso, Igreja daquilo, assassinos fanáticos se flagelando para sustentar o vício e a fé ignorante... Felizmente! (Acho que já vimos quilos disso vindo de Dan Brown ou na esteira dele, para nos entojarmos desse tipo de recorrência literária). 

Lankford nos traz uma roupagem nova a esse estilo literário. Uma feliz ideia, diga-se bem. Pois imprimiu em sua obra a sua própria marca. Ela tem um estilo próprio e o defende bem. Em O Clone de Cristo ela não se preocupa em esmiuçar até a última gota de tinta o tema clonagem e sua consequência ética, religiosa e política. Ela simplesmente expõe bem sutilmente todos os prós e contras que tal projeto envolve, científica ou eticamente, religiosa ou politicamente, e deixa que o leitor decida, dentro de suas crenças e convicções, ou conhecimento, e encontre o caminho que mais lhe agrada.

No livro estão todos os elementos polêmicos do tema: o roubo do sangue de cristo do Sudário; um microbiologista ambicioso; um magnata rico e influente nos meandros políticos tentando descobrir a verdade; políticos mesquinhos e corruptos querendo usar a polêmica do assunto para se promoverem; fanatismo religioso; um repórter farejando o prêmio pulitzer; a posição da Igreja ao saber que o Cristo está sendo clonado; o interesse dos líderes religiosos de outras seitas em querer desmascarar essa suposta farsa... e muito mais.

Um outro detalhe interessante do livro é que Lankford não se preocupou em se aferrar apenas no gênero thriller de suspense e mistério. Isso porque o seu livro não é apenas isso. Todos os elementos de um thriller estão lá, embrionários, apenas. Ela não os fertiliza, não os enriquece e não os faz evoluírem de imediato, preferindo gotejar-nos com eles a medida em que a trama vai evoluindo. O suspense está presente, por conta das operações do Dr. Rossi, do interesse do magnata Brown e das investidas do repórter Jerome Newton, da possibilidade desse ser ou não o clone de Cristo, das prováveis traições que a polêmica por trás da clonagem pode suscitar, e mais ainda. O mistério fica justamente por conta de se o Dr. Rossi de fato conseguiu uma amostra válida de DNA e se esse DNA é de fato o do Cristo (há quem sustente, ainda hoje, que o Sudário de Turim não é verdadeiro). E a ação, propriamente dita, existe sim. Ele ocorre da metade do livro para o final, ou no terceiro terço do livro numa das melhores perseguições que já li num livro até o presente momento.

Um outro ponto relevante na obra de Lankford é que ela se preocupou, fundamentalmente, em mostrar o lado humano de sua história. Os dados científicos são exatos e fruto de uma exaustiva pesquisa. No entanto, sem exageros de nomenclaturas de difíceis e excessivamente detalhadas. Assim como os seus personagens. Eles são tão simples e humanos que se poderia dizer que são a caricatura da humanidade que vivemos hoje em dia.

A história de O Clone de Cristo segue, com algum analogismo, em paralelo com a história bíblica de Jesus Cristo, mais ou menos como ela ocorreu há dois mil anos. Claro, vejam bem, ela não deixa isso explícito no desenrolar da trama, e nem mesmo recria, com exatidão, todos os acontecimentos que envolveram a Natividade de Jesus. Mas o paralelismo é inevitável, já que o que está sendo clonado é o DNA de Jesus. Desta forma acabamos crendo que, como essa é a suposta Segunda Vinda, a gestação e o nascimento se cercará de fenômenos e acontecimentos estranhos, pontuados de alguma mística.

Além do que, O Clone de Cristo traz à tona um tema bastante polêmico. O Sudário de Turim por si só já é um assunto controverso e polêmico. A clonagem de seres vivos, bem como outros, como aborto, células-tronco, homossexualismo, contracepção, entre outros, ainda geram toneladas de material impresso e milhares de horas em documentários. O Clone de Cristo não poderia deixar por menos. Ele é sim um livro polêmico pelo tipo de tema que aborda. No entanto, Jamilla Lakford não o cria. Ela simplesmente  utiliza esse elemento como pano de fundo para desenvolver a sua história.

Porque O Clone de Cristo é um romance que versa, acima de tudo, sobre a amizade, lições de humildade, renúncia, fé e amor, entre outras coisas. O livro começa um pouco vagaroso, seguindo os passos do Dr. Rossi roubando o DNA de Jesus (ou que se supõe que seja). No entanto, a medida em que nos internamos na leitura, a narrativa vai ganhando corpo e o suspense (por conta da clonagem e do sucesso ou não da mesma) vai nos enredando e carregando-nos para um final eletrizante, dramático e emocionante. Certamente foram as cem últimas páginas mais dramáticas e exasperantes que eu já li em um livro. E a única violência que você encontrará no livro é o parto, propriamente dito, feito durante uma fuga alucinante pelas ruas apertadas de Nova Iorque.

Acreditem, vocês não ficarão indiferentes ao drama criado por Jamilla Lankford. E tenho certeza de que muitos que olham meio de esguelha ou de cenho franzido para o livro vão mudar de atitude e pensar nele de forma diferente após lê-lo. Jamilla Lankford, antes de querer causar polêmica, coloca na pauta temas controversos que, por conta da Igreja e de outros segmentos religiosos e sociais, ainda são motivo de calorosas discussões ao redor do mundo.

Polêmico ou não, o importante é que O Clone de Cristo é um livro fascinante que agradará em cheio. Eu mesma adorei. Li, e futuramente estou pensando em reler (depois de liquidar minha imensa lista de leitura) e aguardo ansiosamente pela continuação. Magie caiu no meu gosto e se tornou uma de minhas personagens favoritas. O estoicismo e a fé dela me enebriaram de tal maneira que é difícil não vê-la como a alma desse livro e, porque não dizer, o alter ego de Jamilla Lankford. 

Também gostei muito da personagem Frances, a irmã super protetora. Odiei aquele facínora do Browm e Jerome Newton é o lado negro do jornalismo. Adeline é uma sem graça, mas ela tem os seus motivos. Sam, às vezes, é um saco, mas ele está fazendo bem o seu papel. O Dr. Félix Rossi é um gênio, sem dúvida, e suas atitudes ora caminham pelo aterro da arrogância, ora resvalam no beiral do precipício da ganância pura e simples, mas, na maioria das vezes, ele consegue contornar esses obstáculos e se mostrar uma pessoa de bom coração.

Das muitas lições que depreendi do livro, a mais importante é que em dois mil anos as coisas não mudaram absolutamente nada. O ser humano continua agindo por interesses mesquinhos e avaro, colocando Deus ao seu serviço e transformando as religiões nos vendilhões do templo que Jesus, se aqui estivesse, teria, mais do que naquela época, sérios problemas em expulsá-los.

Leia de mente aberta, medite com o coração, tire suas próprias conclusões, odeie ou se apaixone... é para isso que os livros existem. Para incendiar o nosso imaginário. Quem poderá dizer, ou mesmo julgar, os caminhos que Deus escolhe para realizar as suas obras? Quem poderá mesmo dizer se o Dr. Rossi não está agindo, ele e todos os que estão envolvidos com a clonagem, sob os desígnios divinos? Recomendo!