ISBN: 9788568263440
Tradução: Antônio Xerxenesky e Bruno Mattos
Ano de Lançamento: 2016
Número de Páginas: 400
Gênero: Contos
Selo:  Fantástica Rocco
Editora: Rocco
Classificação: ★★
♥ livro cedido pela editora
Sinopse: Dezesseis histórias fantásticas, algumas escritas há mais de cem anos, outras inéditas, selecionadas por ninguém menos que o aclamado autor de Coraline e outros tantos sucessos, Neil Gaiman. Como o título sugere, Criaturas estranhas é uma coletânea de contos povoada por seres fantásticos, magníficos e às vezes assustadores. Assinadas por autores clássicos de ficção científica e fantasia, como Anthony Boucher e Diana Wynne Jones, a escritores contemporâneos, como Nnedi Okorafor e o próprio Gaiman, as histórias, que parecem ter saído de um sonho, ou talvez de um pesadelo, têm em comum o olhar atento e único de Neil Gaiman para o insólito. Cada conto é precedido de um comentário do escritor, que visa a provocar ainda mais a imaginação do leitor.
Neil Gaiman dispensa comentários. Autor britânico, é detentor de um visual dark, e escritor de diversos títulos literários entre romances, livros infantis, HQs e contos, muitos dos quais já adaptados para o cinema ou televisão, para os quais já trabalhou como roteirista. Vale ressaltar que suas obras literárias, assim como seus roteiros, iniciados na década de 1990, já lhe renderam fama e prêmios. Seu gênero é uma mescla de fantasia, ficção científica, horror e dark fantasy. Ele tem um estilo narrativo único, ao qual é difícil comparar. Se me perguntarem qual é o estilo de Gaiman? Posso apenas responder que é Gaiman. 


“O Museu de História Sobrenatural apresenta: Criaturas Estranhas – Histórias selecionadas por Nei Gaiman...” - Folha rosto do livro, num belíssimo estilo de poster vintage. Aliás, todos os contos contam com gravuras e letras vintage, com belas ilustrações de Narrow-Cribbs, Briony.

São 16 contos ao todo, inclusive um do próprio Neil Gaiman. Cada conto é assinado por um autor diferente, trazendo histórias heterogêneas, mas tendo como pano de fundo algum tipo de criatura estranha. Ora é um ponto que vai tomando forma variada numa folha, até adquirir o aspecto sinistro de uma criatura nunca antes vista; ora são vespas cartógrafas e abelhas anarquistas; ora grifos, serpentes com corpo de mulher, pássaros de fogo, lobos, cacatucanos, manticoras e sereias, lobisomem, ou a temida morte a compor algumas das criaturas que desfilam por essa obra instigante. 

Fazermos aqui uma análise de cada conto seria compor mais do que uma resenha, pois há muitos detalhes e sutilezas que cada um abarca, o que seria impossível dar o seu devido valor sem estender esta crítica infinitamente. Por isso, vou apontar apenas os contos que mais gostei, sem querer injustiçar os demais, salientando que cada um dos leitores poderá ter os seus favoritos e nem sempre combinar o seu gosto com o da maioria dos outros leitores. E não é essa a graça da literatura?  

Pássaro do Sol, de Neil Gaiman; Ozioma, a Maligna, de Nnedi Okorafor; Venha, dona Morte, de Peter S. Beagle; O Voo do Cavalo, de Larry Niven; A Manticora, a Sereia e Eu, de Megan Kurashige; Prismática, de Samuel R. Delaney; O Lobisomem Cabal, de Anthony Boucher...

Cada conto tem a sua magia, um elemento que o torna especial, que poderá agradar uns e levar à indiferença ou ao descontentamento, outros. Todos estão muito bem escritos e cada qual tem uma mensagem nas entrelinhas que precisa ser apreendida pelo leitor. Eu, particularmente, me sensibilizei bastante com o conto Ozioma, a Maligna, pela coragem de uma garotinha ao enfrentar uma deusa em favor do seu povo; e isso na ocasião em que assisti a um documentário na TV que falava da vida da jovem Malala Yousafzai, que, no Paquistão, enfrenta uma luta silenciosa para libertar seu povo do domínio do Taliban.

O Pássaro do Sol também me agradou muito, pois fala da ganância humana, da gula, da capacidade do homem em deturpar o belo e destruir o que não compreende. E esse conto também foi lido na ocasião em que tomei consciência da luta corajosa e humanitária do Fraternidade sem Fronteiras, para ajudar as mais de 1 milhão de crianças órfãos em Moçambique, muitas das quais com Aids, vivendo apenas com papa de milho e casca de árvores para comer. E no conto, Gaiman nos fala de pessoas que vivem para comer, e não o contrário: comem para viver. Ou seja, vivem do fútil, do supérfluo, do egoísmo. 

Bem, como eu disse, os contos podem ser vistos com um olhar que extrapola a análise literária, pois o conto têm esse poder, quase mágico, de nos mostrar nas suas entrelinhas uma realidade que, no cotidiano, nós não conhecemos ou fingimos não ver. Criaturas Estranhas vale uma leitura e uma análise sincera de nossa parte, a respeito da vida que nos cerca e o que nós estamos fazendo da Vida que nos sustenta. Eu gostei e recomendo! Boa leitura!