Livro cedido pela editora para resenha
ISBN: 978-85-94850-86-6
Série: Bodenstein & Kirchhoff 
Tradução: Karina Jannini
Ano: 2015
Páginas: 496
Editora: Jangada 
Classificação: ♥♥♥
Uma adolescente é encontrada morta no rio Meno, nos arredores de Frankfurt. Sua identidade é um mistério. Aparentemente, ela é a terceira vítima de uma festinha regada a álcool que terminou tragicamente, mas a polícia descobre que a água nos pulmões da garota não é do rio, e que seu cadáver mutilado está ali há dias. Pia Kirchhoff e Oliver von Bodenstein, os detetives do best-seller Branca de Neve Tem que Morrer, agora trabalham para descobrir quem aprisionou, estuprou e brutalizou a jovem. Enquanto isso, mais crimes acontecem: a apresentadora de um programa de TV sensacionalista é espancada, estuprada e trancada no porta-malas de seu próprio carro e uma psiquiatra sofre uma morte terrível. A ligação entre os crimes é uma rede de violência e corrupção que atinge a elite da sociedade e o próprio departamento de Pia. Mas talvez seja tarde demais para ela e Oliver descobrirem quem é o lobo mau. 

Se você ainda não conhece essa maravilhosa autora de thrillers de suspense, Nele Nehaus, ainda há tempo. A Editora Jangada editou recentemente os livros Branca de Neve Tem Que Morrer e Lobo Mau. E ambos são altamente recomendados, pois Nele Neuhaus se tornou um fenômeno mundial com a série policial interpretada pela dupla de investigadores Oliver von Bodestein e Pia Kirchhoff. Em 2005, Nele lançou o seu primeiro romance de forma independente, o qual se tornou um sucesso imediato. Além de suas novelas policiais, ela também se dedicou a escrever livros juvenis. A série policial com a dupla Bodestein e Kirchhoff está sendo filmada. Todos os livros de Nele Neuhaus estão com pontuações de quatro estrelas na Amazom.com e Goodreads.com. Dá para ter uma ideia o quanto os livros são bons?

Lobo Mau é o sexto livro da série Bodestein & Kirchhoff, e o segundo lançado no Brasil pela Editora Jangada. Os livros anteriores, com tradução livre do alemão, em ordem decrescente, são: Quem Semeia o Vento (Wer Wind sät); Branca de Neve Tem Que Morrer (Schneewittchen muss sterben); Feridas Profundas (Tiefe Wunde); Amigos Assassinos (Mordsfreund); Uma Mulher Impopular (Eine unbeliebte Frau). O sétimo livro da série, já publicado em 2014 lá fora, chama-se: Os Vivos e os Mortos (Die Lebenden und die Toten).

Uma adolescente encontrada morta com sinais de abuso sexual... Uma famosa apresentadora de TV brutalmente atacada... Uma trama de gelar os ossos...

Lobo Mau, assim como Branca de Neve Tem Que Morrer, é um thriller de suspense da primeira à última página. Nele Neuhaus consegue prender a nossa tenção a cada capítulo. A trama é bem elaborada e cheia de mistérios, os quais vão se evidenciando gradativamente. E isso se dá pela quantidade de personagens que atuam em sua narrativa.

Personagens é o que não faltam nas histórias de Neuhaus. Mas não se preocupe, pois a quantidade deles não é um truque para ocupar espaço. Muito pelo contrário. Cada elemento, cada drama em particular, descritos por Neuhaus, tem o seu lugar exato e o seu tempo de maturação na trama. Nenhum dos personagens, por mínima que seja a sua participação, pode ser negligenciado. Cada personagem é aprofundado pela autora em detalhes. Por isso, em alguns momentos, temos a impressão de estarmos lendo um romance de drama. Porém, não se engane, o foco central é o de thriller de suspense. Essa carga dramática das personagens ajuda a fortalecer o suspense e o mistério por trás da trama.

E por ser um thriller policial, obviamente, a trama gira em torno de assassinatos. Sim, mas, não é o ponto principal da história em si. Nele Neuhaus não quer apenas contar histórias de assassino e vítimas. Para isso há dezenas de outros autores que o fazem. Neuhaus quer nos contar sobre a humanidade entremeada em sua narrativa. Uma humanidade cheia de vícios, enviscerada em pecados, corroída por seus pesadelos íntimos, assombrada por sentimentos antigos, dilapidada moralmente em um mundo que oscila numa corda bamba entre cair e falir como humano, ou dar o passo seguinte e superar o momento doloroso de sua passagem neste mundo.

Portanto, espere encontrar personagens com personalidades comuns, que cada um de nós pode perfeitamente ter como conhecidos em nosso cotidiano, que amam, choram, sofrem, anseiam, buscam, sonham, caem e vivem vidas fragmentadas, ou plenas de esperanças e certezas. Seu personagens são tão humanos que tornam a trama tão atual que nos dá a impressão de que isso aconteceu, virou notícia no noticiário das oito.

Outro ponto favorável em Neuhaus são os temas por ela escolhidos para compor o pano de fundo de suas tramas. Em Branca de Neve Tem Que Morrer - que não tem nada a ver com o conto Branca de Neve -, Neuhaus nos fala da juventude, da adolescência, da inocência perdida, dos desafetos e desamores da vida, do amor e da renúncia dele. Em Lobo Mau - que também não tem nada a ver com o conto Chapeuzinho Vermelho -, a autora nos apresenta um lado bem sombrio da maldade humana, mostrando o quão sórdido pode ser o homem ao maltratar mulheres e crianças; feridas profundas que se abrem na alma, e que jamais se cicatrizam.

Particularmente, me condoeu os dramas de Michaela e da menina Louisa. Meike, a filha adolescente da repórter Hanna, no começo, é pedante e chata, mimada, mas acaba fazendo a diferença; Hanna, a jornalista, apesar de sua arrogância, me surpreendeu pela coragem; Emma, a mãe de Louisa, me pareceu uma sonsa o tempo todo, mas, grávida do segundo filho, teve os seus momentos de lucidez materna; Leonie Verges, a psicóloga, é outra personagem feminina misteriosa; Pia Kirchhoff é uma policial obstinada e intuitiva, sobressaindo-se a todo momento na investigação; Bodestein parece mais um adereço decorativo; e o lobo mau... Bem, o Lobo Mau da história é, de fato, muito mau; de uma maldade monstruosa. Eu dei ênfase às personagens femininas do livro porque, de fato, as mulheres na narrativa de Neuhaus estão sempre em primeiro plano.

A trama se passa na Alemanha, na região montanhosa do Taunus, onde vive atualmente a autora. Apesar dos nomes em alemão, usados com muita frequência no livro para designar ruas, lugares e instituições, a leitura não se faz prejudicada ou difícil por isso.

Ela fez que sim. Subiu na cama e ficou pulando nela. Todos haviam admirado seu vestido e foram tão bonzinhos com ela! A porta se abriu e ela soltou um grito assustado ao ver o lobo. Mas depois acabou rindo. Não era um lobo de verdade, era o papai fantasiado! Que bom que só ela e o papai tinham esse segredo. Pena que depois não conseguia se lembrar de nada. Pena mesmo.

Lobo Mau é um thriller altamente recomendado aos fãs do gênero policial. Com uma narrativa impecável que nos ata à leitura desde o prologo; personagens cativantes, misteriosos e com uma imensa carga dramática; mistério e assassinatos tenebrosos; um final surpreendente e emocionante são outros diferenciais que tornam Lobo Mau uma leitura indispensável. Eu recomendo com certeza!