Livro cedido pela editora para resenha
ISBN: 978-85-7657-101-8
Série: Crônicas de Duna, vol. 1
Tradução: Marina do Carmo Zanini
Ano: 2010 
Páginas: 544
Editora: Aleph
Classificação: ♥♥♥

A vida do jovem Paul Atreides está prestes a mudar radicalmente. Após a visita de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o Planeta Deserto. Envolvido numa intrincada teia política e religiosa, Paul divide-se entre as obrigações de herdeiro e seu treinamento nas doutrinas secretas de uma antiga irmandade, que vê nele a esperança de realização de um plano urdido há séculos. Ecos de profecias ancestrais também o cercam entre os nativos de Arrakis. Seria ele o eleito que tornaria viáveis seus sonhos e planos ocultos? 

Frank Hebert nasceu em Tacoma, no estado estadunidense de Washington, em 1920, e faleceu em 1986 aos 65 anos de idade. Hebert foi um grande escritor, além de jornalista  de renome e crítica. Ele escreveu dezenas de romances de ficção, vários contos, artigos para jornais e revistas e alguns livros de não-ficção. Seu interesse por ficção científica surgiu depois da faculdade, já casado, lendo romances do gênero nos anos de 1950, quando começou a escrever contos. Seu primeiro livro publicado foi "The Dragon in the Sea", de 1955. Quatro anos depois, começou a trabalhar nos esboços de Duna, o qual só veria a ser publicado seis anos depois, em 1965. O livro foi um grande sucesso de público e crítica já em seu lançamento, ganhando o Prêmio Nebula naquele ano e o Prêmio Hugo em 1966.

Frank Hebert deu continuidade à saga de Duna com os livros: O Messias de Duna, Os Filhos de Duna, O Imperador Deus de Duna, Os Hereges de Duna e as Herdeiras de Duna, entre os anos de 1970 e 1986. A Editora Aleph, atual detentora dos direitos autorais da série para a língua portuguesa, vem relançando Duna e os dois subsequentes da série nos últimos anos. Os demais livros foram editados pela Editora Nova Fronteira, nos anos 1980 e 1990, com suas edições há muito esgotadas.

Até os dias de hoje, Duna só é comparado, pelos fãs, críticos e outros autores de ficção científica, à obra de R.R. Tolkein. E ao ler o livro você percebe porque a comparação é meritória.

Duna é um livro de ficção científica considerado original e único. Sua originalidade e profundidade de elementos cênicos e sua riqueza de personagens atraiu o olhar apurado do diretor cinematográfico David Lynch - que, entre outras coisas, também é músico, roteirista, produtor, roteirista e artista visual - e do produtor italiano Dino de Laurentiis - responsável por filmes como Sérpico, Os Três Dias do Condor, Conan - O Bárbaro, Hannibal, entre outros. Duna, o filme, foi lançado em 1984, com um grande elenco nos papéis principais: Sean Young, Vergínia Madsen, Jürgen Prochnow, o cantor Sting, Patrick Stwart, entre outros. Na ocasião, a pretensão do diretor era fazer uma saga à altura de Star Wars. O filme, com uma produção esmerada, foi muito elogiado e  indicado ao Oscar como filme na categoria som; porém ganhou os prêmios de Melhor Efeitos Especiais e de Maquiagem no Academy of Science Fiction & Horror Films.

É no início que se deve tomar, com máxima delicadeza, o cuidado de dar às coisas sua devida proporção. Disso toda irmã Bene Gesserit sabe. Portanto, para começar a estudar a vida de Muad'Dib, tome o cuidado de primeiro situá-lo em sua época: nascido no quinquagésimo sétimo ano do imperador padixá Shaddam IV. E tome o cuidado mais do que especial de colocar Muad'Dib em seu devido lugar: o planeta Arrakis. Não se deixe enganar pelo fato de de que ele nasceu em Caladan e ali viveu até os seus quinze anos. Arrakis, o planeta conhecido como Duna, será sem pre o lugar dele. - Excerto do Manual de Muad'Dib. Da princesa Irulan.

Agora, indo direto ao ponto. Tudo o que eu disse acima foi necessário, pois Duna não é um livro qualquer. Afinal de contas, ele é um senhor de 50 anos que merece toda a nossa atenção e respeito. E tudo o que se disser sobre esse livro ainda não será suficiente; ainda mais se você gosta de sci-fi e fantasia. Considere a sua leitura como obrigatória.

Duna é um grande romance de sci-fi, com muita aventura, ação e fantasia, também. Os cenários são interplanetários, e se passam em quatro planetas distintos: Kaitain, sede do império do universo; Giedi Prime, sede da dinastia Harkonnen; Caladan, sede da dinastia Atreides; e Arrakis, onde está a Especiaria e os lendários nativos do planeta. Dividido em três tópicos principais, ou livros - Duna, Muad'Dib e O Profeta -, a trama engloba temas relacionados à política, ecologia, religião, misticismo, nomadismo, além de nos conduzir por uma aventura repleta de traições, fanatismo radical, amor, renúncia e amizade.

Eu poderia falar das centenas de coisas legais e interessantes que contém o livro. Duna possui um universo tão rico e cheio de meandros, que é impossível comentar sobre cada um dos seus múltiplos e profundos aspectos em uma resenha, até aqui já enorme, sem escrever um outro livro. As naves, armas, os modos de luta, os poderes de telepatia, os vermes de areia, o povo nômade e místico de Arrakis, os exploradores de especiarias, os navegadores da Corporação, entre muitas outras coisas, são o que há de mais criativo em um livro do gênero. Lendo-o, percebi que muita gente bebeu eu suas águas, ou especiarias. Algumas comparações com Star Wars foram inevitáveis. George Lucas, certamente, leu Duna bem antes de pensar em escrever e dirigir o Episódio 4 da sua saga intergalática, de 1977.

As Bene Geserittis são uma ordem de místicas-religiosas que possuem o dom da telepatia, com um poder de influência política até na sede do império; os Atreides são o clã que detém a exploração da especiaria em Arrakis, e tem em Paul Artreides, filho de Leto e Jéssica Atreides, a sua melhor promessa de continuidade nos negócios da dinastia; os Harkonnen são um clã cujo líder, Vladmir Harkonnen, é um monstro sanguinário que jurou destruir a casa Atreides e tomar posse de seu planeta e da exploração de especiaria; o imperador Shaddan IV é volúvel e dança conforme a música, facilmente influenciado pelas Bene Geserittis, além dos líderes da Corporação dos Navegadores; os navegadores são criaturas monstruosas que vivem em recipientes cheios de especiaria, a qual  usam para pilotar as espaçonaves e fazê-las transpor o espaço-tempo numa espécie de dobra do universo, como se sumissem aqui e aparecessem ali, sem se deslocar realmente; a especiaria, por sua vez, é a espinha dorsal da trama, pois quem controla o comércio da especiaria tem um poder imenso, podendo influir nas decisões do Império; e como a especiaria está em Arrakis, ali também está o povo nômade e místico que acredita que um guerreiro chamado Muad'Dib, uma espécie de messias, surgirá em Arrakis para acabar com a produção de especiarias e devolver o planeta à sua legítima natureza. Mas o verdadeiro Muab'Dib só seria reconhecido como tal se fosse capaz de dominar e cavalgar um verme de areia... Ufa! E olha que isso é apenas uma pequena fração do que você vai encontrar em Duna.

Um ponto relevante no trabalho de Frank Hebert diz respeito a descrição da viagem intergalática das naves em seu livro. O conceito das naves transpondo o espaço-tempo, ou seja, as três dimensões do espaço e a dimensão tempo, as quatro dimensões para adentrar numa quinta dimensão, a dobra espacial – conceito esse também visto e explorado em Star Trek na série de TV, que foi ao ar em 1966, na ocasião que o livro foi publicado -, e, considerando-se que a maioria dos físicos, nos dias de hoje, já consideram que a única forma de se viajar longas distâncias no universo seria através de uma quinta dimensão, ou dobra espaço-temporal, nos faz concluir que Frank Hebert antecipou em cinquenta esse conceito, entre outros contidos no livro.

O outro aspecto interessante é que, assim como Tolkein foi beber nas lendas nórdicas para compor O Senhor dos Anéis, Frank Hebert inspirou-se profundamente nos costumes e religiosidade dos árabes e beduínos do Oriente Médio para tecer a saga de Duna.

Por essas e muitas outras, Duna é um daqueles livros que nos dá satisfação e prazer da leitura. A saga do Muad'Dib é apaixonante e me prendeu a atenção do começo ao fim. Me apaixonei tanto pelo livro que estou ansiosa para ler as continuações. E se aqui pudesse fazer um apelo à Editora Aleph, seria para que eles republicassem os outros livros da série. Esse maravilhoso trabalho de um grande escritor como foi Frank Hebert merece ser conhecido e reconhecido pelos fãs de sci-fi e fantasia no Brasil. Eu o considero nota dez e recomendo muito sua leitura!