Livro cedido pela editora
ISBN: 9788565765480
Ano: 2014
Páginas: 272
Editora: Seguinte
Classificação:  ♥♥♥♥
Cadence vem de uma família rica, chefiada por um patriarca que possui uma ilha particular no Cabo Cod, onde a família toda passa o verão. Cadence, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat (os quatro "Mentirosos") são inseparáveis desde os oito anos. Durante o verão de seus quinze anos, porém, Cadence sofre um misterioso acidente. Ela passa os próximos dois anos em um período conturbado, com amnésia, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos, tentando juntar as lembranças sobre o que aconteceu.

Mentirosos é aquele tipo de livro que não importa se está todo mundo amando ou odiando, você tem que ler para tirar suas próprias conclusões. E digo uma coisa, só lendo mesmo para saber o quanto a narrativa é ótima, a história é surpreendente e envolvente, e o quanto E. Lockhart consegue te manter cativo até a última letra da última frase do livro. Impossível eu conseguir deixar claro aqui o quanto este livro me envolveu e me cativou, mesmo que eu fique falando e falando. Não há nada que vá te preparar para esta leitura. E não importa se você vai amar ou odiar o livro no final, você não vai sair ileso, de qualquer forma.

Os Sinclair são uma tradicional família aristocrática americana. São ricos, bonitos, altos e claros, atléticos e vencedores. Sempre estão sorrindo, sempre estão por cima. E a cada verão passam um tempo juntos em uma ilha particular próxima à costa de Massachussets

É nesta ilha que Cadence e seus primos Johnny e Mirren, e Gat, amigo de Johnny (os Mentirosos); assim como outros primos menores, Will, Liberty, Taft e Bonnie, vivem aventuras desde pequenos. Juntamente com as mães e tias deles: as irmãs Carrie, Bess e Penny; e os avós Harris e Tipper. Dá para perceber que a família é grande, não é mesmo!? E é mesmo! Mas nada é maior que o ego, a sede por dinheiro e o amor pelas aparências que eles nutrem. De certa forma os jovens não conseguem ficar alheios à ganância dos adultos, mesmo que não queiram exatamente seguir o mesmo caminho. 

Mas para Cadence o que mais importa em sua juventude é a amizade com os Mentirosos. Sua história começa de verdade quanto, no verão dos oito (quando todos os Mentirosos tinham oito anos) ela conhece Gat, o jovem com traços marcantes: nariz grande, boca meiga, pele morena, cabelo preto e ondulado. E cheio de uma energia que contagiava. Este é Gat. Um menino que iria mudar a vida de Cadence nos próximos verões.

Sem querer, eles se tornam grandes amigos e vivem juntos. Até que no verão dos quatorze algo muda, e eles começam a se perceber de forma diferente, e a descobrir que a amizade era algo mais profundo e terno do que imaginavam. Estavam apaixonados. Acontece que Gat não é exatamente da família, mesmo sendo aceito na ilha. Ele é totalmente diferente dos Sinclair e também tem opiniões divergentes dos jovens Mentirosos, tanto que muitas vezes quando toca em um assunto mais profundo, eles ficam entediados ou tentam mudar de assunto. Também tem o fato de que Cady é a neta mais velha e, portanto, a principal herdeira da propriedade. 

Mas um Sinclair nunca aceita ser diminuído, certo!? A briga entre as irmãs CarrieBess Penny é terrível. Elas querem que o avô Harris, pai delas, divida os bens de forma vantajosa, mas claro, cada uma quer a porção maior do filão. E é em meio ao paraíso da ilha e uma guerra interna que os Mentirosos vivem juntos à cada verão. Para Gat e Cady, estar juntos é a coisa mais maravilhosa que existe. Até que chega o momento de se separar e todos passam um ano separados. E eu achei engraçado porque eles não se comunicam quando estão separados. Sua relação só fica forte quando estão juntos na ilha. É como se só ali eles existissem uns para os outros. É como se só ali eles realmente existissem.

Até que no verão dos quinze um estranho acidente faz com que Cadence perca a memória e fique com terríveis sequelas: dores terríveis de cabeça, enjoos, depressão e fraqueza. Ela perde a vontade de fazer tantas coisas que gostava, não consegue estudar, vive a base de analgésicos e começa um projeto pessoal de doação de suas coisas (das quais acha desnecessário manter). As dores de cabeça ficam cada vez mais terríveis e a angústia de não saber de nada a corrói. O pior: ela fica afastada da ilha por dois anos e Gat nem sequer a procurou. Ela tenta se comunicar com Johnny e Mirren mas eles nunca respondem. Porque estão a tratando assim, como se ela nem ao menos existisse? E o pior: o que aconteceu com ela, que foi tão terrível, e ela não consegue se lembrar? Só voltando para a ilha e só voltando a ver os Mentirosos ela terá as respostas, disso ela tem certeza. E é o que ela faz! 

Sei que posso ter falado demais, mas acreditem, não contei nada! Mentirosos é o tipo de livro que surpreende. Surpreende pela narrativa tão bem construída, pelo mistério que envolve o acidente de Cady e o motivo para que tudo esteja acontecendo. Somente lendo para entender!

A narrativa de E. Lockhart é um caso de amor! Me cativou não apenas pelo suspense e tensão da trama, mas justamente pela forma como ela usa as palavras e utiliza frases curtas. Ela usa metáforas, referências à rei Lear. Sua narrativa em primeira pessoa, pelos olhos de Cady, ainda nos presenteia com pequenas releituras de contos de fadas, criadas pela própria protagonista, e que expressam os sentimentos e pensamentos de cada passagem da trama. Os capítulos são curtos e garantem uma leitura ainda mais fluída. E. Lockhart me envolveu de uma forma tamanha que não consegui largar o livro até terminar. O livro não tem ação, mas suas palavras seguem em um crescendo e é tão original, que é impossível não se ver roendo as unhas com um suspense angustiante e esta história ímpar. Eu também gostei da forma como a autora expõe os sentimentos e personalidades, utilizando algumas metáforas e sensações para descrevê-las. E é nesta narrativa tão deliciosa que encontrei em Mentirosos

É justamente por esta narrativa tão envolvente que os personagens se tornam muito reais e intensos. Eu adorei o romance de Gat e Cady e a relação tão estranha e especial entre os Mentirosos. Eles têm uma forma de amor tão inusitada, estranha e cativante.

A autora também faz uma forte crítica social à ganância e à cobiça do rico que quer sempre ficar mais rico. A ponto de ignorar o bem da própria família em benefício de dinheiro e propriedade. A ponto de manipular, corromper, adular, brigar. Esta crítica está impregnada do começo ao fim do livro e mostra como o dinheiro e esta ganância por poder podem destruir sonhos, pessoas e famílias. 

Eu só não dei nota máxima para o livro e não o favoritei, apesar de ter pensando muito sobre isto, porque eu não gostei muito do distanciamento dos personagens quando eles não estavam na ilha, e o fato de eles, principalmente Gat e Cady, apesar de se amarem, não se conhecerem tão bem e não terem uma relação mais profunda. Sabe aquele sentimento de que o que acontece nas férias de verão, morrem nas férias de verão? É mais ou menos isso. Que só volta a se tornar uma realidade quando eles estão juntos na ilha novamente. É como se o tempo parasse e só voltasse a correr quando se reencontram. Eu achei meio estranho, e até mesmo fiquei em dúvida dos sentimentos que nutriam uns pelos outros. Mas este fato não atrapalhou o meu aproveitamento do restante da obra. A história também é simples, mais focada nos sentimentos, mas é justamente por isso que é tão intensa. Claro que eu gostei, e claro que me emocionei.

Acima de tudo eu não estava preparada para o final do livro e o motivo do acidente de Cadance. Claro, a autora dá indícios durante o decorrer da trama, mas mesmo que eu já desconfiasse nunca estaria preparada para este desfecho. Ao fim do livro, a narrativa transborda de sentimentos e é tão intensa que eu verti lágrimas de angústia e tristeza. Meu coração se partiu de verdade. É tão triste, bonito, intenso e verdadeiro que chega a doer. E como dói. 

Mentirosos é um livro intenso, emocionante, com uma narrativa maravilhosa e com uma trama envolvente. Não tem como eu te falar o quanto o livro é diferente, interessante e/ou bom, apenas lendo você entenderá, pois é um livro que mais se sente do que se vê. Entende?