Reconstruindo Amélia 
Kimberly McCreight
ISBN: 9788580412857
Tradução: Carolina Alfaro
Ano: 2014
Páginas: 352
Editora: Arqueiro
Pontuação: ♥ ♥ ♥   
Kate Baron, uma bem-sucedida advogada, está no meio de uma das reuniões mais importantes de sua carreira quando recebe um telefonema. Sua filha, Amelia, foi suspensa por três dias do Grace Hall, o exclusivo colégio particular onde estuda. Como isso foi acontecer? O que sua sensata e inteligente filha de 15 anos poderia ter feito de errado para merecer a punição? Sua incredulidade, no entanto, vai aos poucos se transformando em pavor ao deparar, no caminho para o colégio, com um carro de bombeiros, uma dúzia de policiais e uma ambulância com as luzes desligadas e portas fechadas. Amelia está morta. Aparentemente incapaz de lidar com a suspensão, a garota subiu no telhado e se jogou. O atraso de Kate para chegar a Grace Hall foi tempo suficiente para o suicídio. Pelo menos essa é a versão do colégio e da polícia. Em choque, Kate tenta compreender por que Amelia decidiu pôr fim à própria vida. Por tantos anos, as duas sempre estiveram unidas para enfrentar qualquer problema. Por que aquele ato impulsivo agora? Suas convicções sobre a tragédia e a própria filha estão prestes a mudar quando, pouco tempo depois do funeral, ela recebe uma mensagem de texto no celular: Amelia não pulou. Alternando a história de Kate com registros do blog, e-mails e posts no Fa­cebook da filha, Reconstruindo Amelia é um thriller empolgante que vai surpreender o leitor até a última página.

Quanto da sua vida você conta para sua mãe? Você realmente sabe o que se passa na cabeça da sua filha? Estas são perguntas das quais muitas vezes não paramos para pensar, mas que podem fazer toda a diferença em nossas vidas. Atitudes, pequenas atitudes, podem mudar tudo. É o que descobrimos em Reconstruindo Amélia, livro de estreia de Kimberly McCreight, que é um ótimo thriller psicológico.

Kate Baron é uma advogada muito bem sucedida, mas devido à sua carreira, apesar de ser uma boa mãe, é um tanto ausente para a filha. Ela se esforça ao máximo para proporcionar tudo o que pode para Amélia, e sempre que tem um tempo livre garante que as duas fiquem juntas e se divirtam, fazendo programas de mãe e filha. Mas isso não parece ser o bastante.

Amélia tem 15 anos e, apesar de ter uma melhor amiga, Sylvia, e uma amigo virtual, Ben, se sente um tanto solitária. Ela entende que sua mãe é ocupada por causa da carreira, e a ama muito mesmo assim, mas não pode evitar de se sentir um pouco só. E ela se vê questionando a identidade do pai, que nunca conheceu; um segredo que sua mãe guarda a sete chaves.

Um dia Kate recebe uma ligação da escola, dizendo que sua filha está sendo suspensa por plágio. Desesperada, Kate faz o máximo possível para chegar logo, mas, como sempre, chega atrasada. E quando chega já é tarde demais. Inexplicavelmente, Amélia cometeu suicídio, entre o tempo que Kate demorou para chegar, se jogando do telhado do prédio da escola. O sentimento de culpa é inevitável, e ela se sente uma péssima mãe.

Mas Kate conhecia muito bem Amélia e sabia que ela jamais cometeria suicídio, e muito menos plagiaria um trabalho. Bonita, inteligente, cheia de atividades extracurriculares, aluna aplicada, Amélia jamais iria fazer nem uma coisa nem outra. Seu coração de mãe sabe. Agora Kate tem que ir atrás de respostas para provar que sua filha não cometeu suicídio, e descobrir quem está por trás da morte de Amélia. Entre mentiras, verdades e muitas descobertas, Kate vai perceber que conhecia sim a filha, mas não tanto quanto imaginava, pelo menos nos últimos meses.

O livro é alternado entre Amélia e Kate. Com narrativa em primeira pessoa temos o ponto de vista de Amélia, desde dois meses antes até o momento que culmina em sua morte; além de diversos trechos de conversas em SMS, mensagens no Facebook e textos de um blog. Com narrativa em terceira pessoa temos o ponto de vista de Kate em sua busca por verdades, reconstruindo os passos da filha e redescobrindo fatos sobre ela. McCreight estreia com louvor, com uma trama muito bem construída, com cada mínimo detalhe muito bem amarrado e pensado. Cada personagem contribui, mesmo indiretamente, para os fatos que se desenrolam e que nos levam a grudar os olhos nas palavras que estão a nossa frente. E é cada um destes personagens que levam com suas atitudes, direta ou indiretamente, Amélia à morte.

A luta de Kate por respostas e sua determinação foi um dos pontos do livro que mais me envolveu. Ela mesma não é perfeita, e tem que lutar contra os demônios que ressurgem de seu passado, mas o modo como ela tinha certeza, em seu coração, de que Amélia não havia se matado, e sua luta para limpar a memória da filha e descobrir quem estava por trás de sua morte foi incrível. Achei muito interessante como os fatos foram se desenrolando e como tudo foi surgindo e vindo à tona.

O modo como McCreight nos apresenta estas situações e fatos é tão real que é inevitável pensar que algo assim poderia realmente acontecer. Tenho o hábito de assistir ao jornal Cidade Alerta, com Marcelo Rezende, e  vejo cada caso absurdo. Cada morte que acontece por motivos tão banais, que é triste ver como a alma humana pode ser corrompida por tão pouco. Como a vida vale tão pouco para alguns. Como é tão simples destruir sonhos, amizades, amores, confiança. Como é tão fácil tornar a vida de alguém um verdadeiro inferno. E McCreight nos mostra muito bem isso em Reconstruindo Amélia.

A autora nos mostra como nossas escolhas, pequenas ou grandes, podem afetar toda a nossa vida e a das pessoas ao nosso redor. Como pequenas coisas podem fazer toda a diferença entre a paz e a loucura, entre a verdade e a mentira. Como muitas vezes não conhecemos verdadeiramente aqueles que mais amamos, ou como poderíamos ajudar se soubéssemos o que se passa em seu íntimo. Fiquei comovida com toda a situação que Amélia passa. Pois cada uma de suas escolhas, cada uma das pessoas que estavam envolvidas com ela, e se omitiram ou a enganaram ou a "ajudaram", contribuíram para seu fim. Não só isso, mas a autora nos traz uma reflexão sobre os dramas vividos na adolescência, um período de descobertas, insegurança e muitos caminhos. E também de muita dificuldade diante de tanta diversidade entre os alunos, preconceito, bullying, etc.

É impossível largar o livro até terminá-lo. A narrativa de McCreight é viciante e muito envolvente, e garante o suspense e a tensão do começo ao fim. Mas o livro me envolveu muito além do mistério e suspense com a morte de Amélia, pois a trama está cheia de sentimentos fortes, que nos garantem emoção e um sentimento de fatalidade inevitável. Me emocionei ao final do livro e me vi comovida pela força do amor de uma mãe que acreditou na filha até o fim.

Reconstruíndo Amelia é um thriller de estreia maravilhoso, e deveria ser leitura obrigatória, não apenas pela ótima história, mas também pela mensagem que nos passa. Mostra que não devemos nos calar diante das problemas, não devemos sofrer sozinhos, e falar ao invés de omitir é a melhor escolha sempre. Recomendado para quem ama o gênero, com drama na medida certa, e suspense muito bem estruturado.