O Fim de Todos Nós
Megan Crewe
ISBN: 9788580573305 
Tradutor: Rita Sussekind
Ano: 2013 
Páginas: 272
Editora: Intrínseca
Pontuação: ♥ ♥ ♥  
Kaelyn acaba de ver o melhor amigo partir. Ela tem dezesseis anos e voltou agora para a ilha onde nasceu, depois de um período morando no continente; ele está fazendo o caminho inverso, para estudar fora. O que sentem um pelo outro não está muito claro, ela o deixou ir embora sem nem mesmo dizer adeus, e a última coisa que passa por sua cabeça é nunca mais vê-lo. Mas, pouco tempo depois, isso está bem perto de acontecer. A ilha de Kaelyn foi sitiada e ninguém pode entrar nem sair: um vírus letal e não identificado se espalha entre os habitantes. Jovens, velhos, crianças - ninguém está a salvo, e a lista de óbitos não para de aumentar. Entre os sintomas da doença misteriosa está a perda das inibições sociais. Os infectados agem sem pudor, falam o que vem à mente e não hesitam em contaminar outras pessoas. A quarentena imposta pelo governo dificulta as pesquisas em busca da cura, suprimentos e remédios não chegam em quantidade suficiente e quem ainda não foi infectado precisa lutar por água, energia e alimento.  Nem todos, porém, assistem impassíveis ao colapso da ilha. Kaelyn é uma dessas pessoas. Enquanto o vírus leva seus amigos e familiares, ela insiste em acreditar que haverá uma salvação. Caso contrário, o que será dela e de todos? Afiado e atordoante, O fim de todos nós é a história da força de vontade e da bravura de uma garota comum forçada a reavaliar seus medos e escolher entre a própria humanidade e a sobrevivência.

Terrível, triste e devastada. É assim que me senti ao término da leitura de O Fim de Todos Nós. E posso garantir que são estas e tantas outras definições de mesmo nível que definem o livro. Estava um tanto ansiosa para conferir a história de O Fim de Todos Nós, e ao mesmo tempo um tanto receosa, e confesso que de início não esperava muito do livro.

Ao começar a leitura deste primeiro volume da série Fallen World, estranhei um pouco a narrativa de Megan Crowe. A autora utiliza de Kaelyn como narradora em primeira pessoa, através de um diário que a garota está escrevendo para seu ex-melhor amigo Leo, ao qual ela menciona diversas vezes, e utiliza de datas para iniciar seus relatos. De início, achei a narrativa um tanto superficial em alguns pontos, e muito detalhada em pontos que não via necessidade alguma. Também senti falta de descrições dos personagens, por exemplo. Mas esta estranheza foi apenas no início. Outro detalhe é que a trama se desenrola aos poucos e demora um pouco para engrenar, mas quando engrena... É de tirar o fôlego. Mas não por ter ação, não! Mas por todos os acontecimentos que se sucedem e nos arrancam o ar. Que nos fazem prender o fôlego sem perceber!

Ao decorrer da leitura, não só me vi totalmente envolvida com a narrativa de Crowe, como também não consegui largar o livro até chegar à última página! Sua narrativa se tornou viciante e me envolveu de uma forma que realmente não esperava. E... UAU! A autora me pegou de jeito em diversos aspectos. E um deles foi que, no fim das contas, eu acabei gostando muito do livro, algo para o qual simplesmente não estava preparada. E adoro este tipo bom de surpresa.

Crowe conseguiu criar uma trama tão real e amedrontadora, que nos dá medo e nos faz pensar: e se isso acontecer? E se isto estiver acontecendo neste exato momento? Mas digo mais: isto já aconteceu! Claro, não do mesmo jeito apresentado no livro, mas, vemos através dos tempos, e em um passado não tão distante, que desastres envolvendo novos tipos de vírus já surgiram e dizimaram milhares de pessoas ao redor do mundo. Talvez você já tenha ouvido falar da Peste Negra que dizimou um terço da população durante a Baixa Idade Média, uma verdadeira pandemia causada por uma bactéria. E mais recentemente vimos a Gripe Aviária e a Gripe Suína com seus vírus H5N1 E H1N1 infectando milhares de pessoas.

E então podemos nos perguntar: o livro O Fim de Todos Nós, de Megam Crowe é uma ficção? Pois para mim, não, não é! É claro, é um livro totalmente ficcional, mas com fatos e acontecimentos muito reais.

Kaelyn, é uma garota que sofre um tanto pela perda de seu melhor amigo Leo. Há alguns anos eles tiveram uma briga, antes do rapaz sair da ilha onde moravam, e nunca mais se falaram. Desde então Kae se sente muito sozinha e tenta, depois de muito tempo, se enturmar com outras pessoas. Reforça sua amizade com Rachel e Mackenzie, e decide mudar certas atitudes e ser mais sociável. Mas acontece que o que ela realmente gosta é ficar sozinha observando a natureza e os costumes de animais. Além, de alimentar a esperança de reencontrar com Leo e poder se desculpar.

Mas Kae talvez nunca tenha esta chance, pois do nada um vírus surge na ilha. Um vírus novo e desconhecido. Os sintomas iniciais são: espirro, tosse e uma insistente coceira que não passa. Depois vem a desinibição social: a pessoa fala tudo o que pensa e faz coisas estranhas, tendo alucinações, gritando, perdendo o controle. E então vem a morte.

A doença parece estar sendo controlada de início. O governo do continente, não muito distante dali, promete estar ajudando sempre com mantimentos e medicamentos, e coloca a ilha em quarentena. Mas a verdade: não há como controlar a doença, que se espalha rapidamente, e dizimando os habitantes da ilha. Não há controle, não há saída. Não há ajuda! Todos os habitantes estão presos na ilha sem poder sair. Ninguém entra também. E com o tempo até mesmo o que parecia seguro e certo, começa a perder o sentido e a força. Surgem o: desespero, caos... e a esperança, ou a perda total dela!
[...] Só quero que isso acabe. Quero que as lojas reabram e que as pessoas possam conversar sem máscaras cobrindo-lhes os rostos, e que mais ninguém morra, nunca mais. pág. 100
Kae é umas das personagens que têm de enfrentar o vírus e fazer de tudo para se proteger. Através dela conhecemos também tantos outros personagens importantes, como seu pai que é um microbiologista e ajuda no hospital da ilha e no centro de pesquisa para achar uma cura para o vírus; sua mãe e seu irmão, Drew. Conhecemos também Meredith, sua priminha de 7 anos, que se mostra muito madura para sua idade. Tessa, namorada de Leo, que acaba se tornando amiga fiel de Kae na diversidade e se mostra um porto seguro nesta luta pela sobrevivência. Gav, um dos sobreviventes, que se torna amigo e um algo mais de Kae. E Quentin, que acaba não lidando muito bem com as dificuldades. Enfim, entre tantos outros que não destaquei e são muito importantes.

Ao decorrer da trama conferimos a luta de Kae pela sobrevivência não somente dela mas de todos aqueles que ama. E em determinado ponto, vemos o quanto a vida é frágil e tudo pode mudar rapidamente. É triste ver como o vírus toma conta da ilha. É triste ver como os recursos e os meios se tornam escassos e difíceis. Como em determinado ponto não só o vírus é perigoso mas as pessoas também. Kae acaba se deparando com diversas questões sobre o que é certo e errado; o que realmente tem valor ou não. Tudo muda drasticamente e o que antes parecia ter importância de repente já não significa mais nada, num piscar de olhos.

Conforme avançava na leitura, me vi envolvida de tal forma que me despedacei junto à Kae e me desesperei com toda a situação da ilha. Com uma situação mais assustadora do que em um vírus que ataque e transforme todos em zumbis. Pois isto é real!
Nosso vírus é muito mias esperto do que aqueles que aparecem nos filmes de zumbi: não deixa as vítimas cambaleando por aí, babando e resmungando, de modo que qualquer um em sã consciência se afaste. Faz com que elas se aproximem das outras pessoas, para poder tossir e espirrar na cara delas. pág. 86
E também tenho que confessar que a autora me despedaçou com sua história. Pegou meu coração, apertou entre os dedos, jogou no chão e pisou em cima. Parece meio pesado e drástico falar assim, mas não consigo pensar em uma definição melhor de como me senti ao ler este livro. Ele é denso, fortecheio de emoções e tem uma carga triste que abala. Não há como evitar. Eu não sai ilesa!
[...] Pessoas cujas presenças permanecem nos porta-retratos das mesas de cabeceira, nos bilhetes deixados nas bancadas das cozinhas, nos brinquedos espalhados pelo chão das salas e nos pôsteres pendurados nas paredes dos quartos. Porém nenhuma delas vai voltar. pág. 185
Tiro meu chapéu para Megan Crewe e dou o braço a torcer. Além da bela edição, realmente gostei bastante de O Fim de Todos Nós, e aguardo ansiosa pela continuação.