Filhos do Fim do Mundo
Fábio M. Barreto
I.S.B.N.: 9788577343126
Número de Paginas : 288
Edição : 2013
Editora: Fantasy
Pontuação: ♥ ♥ ♥  
QUANDO AS CRIANÇAS DO MUNDO PARAM DE NASCER, UM REPÓRTER SE PREPARA PARA SUA ÚLTIMA MATÉRIA SOBRE O COMEÇO DO FIM DO MUNDO. É meia-noite quando a humanidade é surpreendida pela notícia: todas as crianças nascidas nos últimos 12 meses morreram misteriosamente. Descobrem também que plantas e filhotes também morreram. Um repórter responsável por cobrir os eventos preparativos para o fim do mundo, deixa sua esposa grávida em casa, partindo para uma perigosa missão investigativa, em que terá de enfrentar grandes desafios para proteger aqueles que ama. Em Filhos do fim do mundo, acompanhamos a saga de um repórter tentando se equilibrar entre sua função de pai e jornalista em meio ao caos pré- apocalipse. As catástrofes se misturam com a tensão psicológica do personagem em um envolvente romance que vai encantar os amantes de ficção.

Filhos do Fim do Mundo foi uma das gratas surpresas de 2013. Apesar de, aparentemente, o livro seguir na esteira de tantos e tantos outros livros que vieram preconizar o Apocalipse do tão badalado Calendário Maia, este livro inova por desvincular-se totalmente dessa vertente já falida.

Fábio Barreto criou algo bem diferente e original. Sua trama não se passa exatamente em fins de dezembro de 2012; também não tem vínculo nenhum com o Calendário Maia, Nostradamus ou o Apocalipse Bíblico. Filhos do Fim do Mundo tem uma proposta diferente para o Fim dos Tempos. 

A narrativa é contada fora do espaço tempo que nos é comum. A história não acontece nesse ou naquele ano no passado ou no futuro. Na realidade, ela se passa no tempo presente. Em qualquer tempo presente. Pode ser o momento exato em que você está lendo o livro. Mesmo o fato dele mencionar que o incidente ocorre à meia-noite de um mês de dezembro qualquer. Só isso não é suficiente para dizer em que ano ou dia do mês de dezembro ocorre o fato. 

Outra coisa interessante da narrativa de Fábio é que ele não nomeia os seus personagens com nomes próprios  Nenhum deles se chama João, Marcos, Ana, etc. Cada personagem é nomeado por um detalhe em particular ou por sua profissão. Por exemplo, o personagem repórter é chamado o tempo todo de Repórter. A esposa dele, de Esposa. O padre é Padre, o coronel é Coronel, e assim por diante. Quanto as localidades onde se passa a história, Fábio não se preocupou em nomeá-las ou situá-las geograficamente. Poderia perfeitamente se passar em uma cidade de um país qualquer, que poderia ser no Brasil ou em qualquer outro.

Aí você se pergunta. Mas isso funciona bem? Bom, do meu ponto de vista, sim. Pra ser sincera, achei que ficou muito bacana. Fazia tempo que eu estava procurando algo parecido em um livro. Há tempos venho (ou vinha) imaginando como seria ler um livro em que os personagens não possuem nome próprio; onde os lugares em que os personagens visitam não estão indicados num mapa geograficamente; onde os acontecimentos são atemporais. 

Filhos do Fim do Mundo é atemporal e parece acontecer em um mundo paralelo ao nosso. E é aí que reside toda a originalidade e ousadia de Fábio Barreto. Só por isso o livro merece ser lido e apreciado por todos os leitores. Os personagens são carismáticos. Você logo se afina com a personalidade do Repórter. A medida em que a trama desenrola, outros vão surgindo no caminho, como o Coronel, o Governador, o Padre, o Blogueiro, etc. Uns você adora, como o Padre, por exemplo; outros você odeia, como o Blogueiro

Quanto a trama em si, esse negócio de fim do mundo parecia já fadado ao extermínio depois do último 21 de dezembro. Satisfatoriamente, o autor mostrou que o tema ainda tem muito para ser explorado. 
O que você faria, ou seria capaz de fazer, ao acordar de manhã cedo e descobrir que seu filho com menos de um ano de idade está morto no berço? Como você se sentiria ao saber que os filhos de outras pessoas, em todo o mundo, tiveram o mesmo destino? E se plantas e animais começassem a morrer após esse evento e as pessoas começassem a enlouquecer, sabendo que ninguém mais iria poder ter um filho outra vez? Seria o fim da humanidade? E se o filho que sua esposa está esperando, ou que você mesma está esperando, vier a morrer ao nascer? E se isso, de fato, não acontecer? O que isso representará nas circunstâncias pelo qual está passando a humanidade? Quando o caos destitui o homem da sua humanidade, qual  é o caminho que o reconduz de volta a humanidade perdida?

Na história do nosso planeta tivemos exemplos clássicos de coisas parecidas com o descrito por Fábio Barreto. Vou citar apenas um: a extinção em massa dos dinossauros. Nós não somos dinossauros. Ainda bem. Mas, vivemos num mundo que há bilhões de anos vem mudando de humor a cada milhares de anos. Muita coisa já aconteceu neste planeta. A geologia e a paleontologia estão aí para prová-lo. Coisas assim podem acontecer. Posso citar outro exemplo: a extinção em massa das tribos indígenas na América do Sul e do Norte pelos europeus. Aqui mesmo no Brasil, os Guaranis

E é sobre isso que trata o livro: a extinção em massa da humanidade. Claro, o autor mostra apenas uma dentre muitas possibilidades que poderiam conduzir a nossa atual civilização ao seu ocaso. Isso aconteceu com tantas outras no passado. Babilônia, Grécia, Egito, Roma… Civilizações que cresceram, prosperaram e desapareceram. E nós, aqui ou ali, continuamos adiante. Certamente é isso o que Fábio quer nos mostrar em seu livro.  A humanidade acaba quando nós deixamos de ser humanos!

Bom, antes de concluir gostaria de dizer que Fábio Barreto me lembrou outro escritor, o espanhol Manoel Loureiro. E da mesma forma, Filhos do Fim do Mundo me fez lembrar, não na forma narrativa, mas no tema, o excelente filme Fim dos Tempos (The Happening – 2008), dirigido pelo indiano Manoj Nelliyattu Shyamalan. 

Concluindo, então: Gostei muito da forma como Fábio Barreto escreve. A forma como ele descreve os personagens, sem dar-lhes um nome, uma identificação com a qual nos apegarmos individualmente, porque a ideia de universalizá-los, torná-los filhos de todo mundo, me agradou muito. Adorei todos os personagens e a construção dos mesmos. Também gostei da atemporalidade da história. Os conflitos íntimos do Repórter para executar sua missão, como repórter, também ficou muito interessante.  Filhos do Fim do Mundo não trata apenas de apocalipse ou do fim da humanidade. Há muito mais que ser apreciado: drama, amor, fé, desilusão, ganância, egoismo, conspiração, falsas impressões, mentiras, paixão, ódio, humildade, sacrifício e, acima de tudo, humanidade… ou a falta total dela. 

O projeto gráfico desse livro ficou um show. A capa, a diagramação, as letras, tudo muito bom e perfeito, condizente com a proposta do livro. A Fantasy está de parabéns neste quesito, pois acertou em cheio.  Visualmente o livro é bonito e convidativo. 

Com tudo isso que eu disse de bom sobre o livro tenho apenas um pontinho negativo para dizer: O fim. Não gostei. Sinto dizer, mas é verdade. Achei que ficou muito a desejar. Sinceramente, o fim que levou o Repórter foi ingrato. Não vou dizer mais nada, senão acabo estragando a leitura de vocês. Mas, acho que Fábio ficou nos devendo alguns poréns e por quês. Apesar disso, o livro merece ser lido e comentado.  

Ainda vamos ouvir falar muito de Fábio M. Barreto no futuro, isso tenho certeza.