Caminhos de Sangue
Moira Young
Tradução: Fábio Fernandes
ISBN:
978-85-8057-194-3
Lançamento:
15-06-2012
Páginas:
352
Editora: Intrínseca
Pontuação: ♥ ♥ ♥  
Saba passou a vida inteira na Lagoa da Prata, uma imensidão de terra desértica assolada por constantes tempestades de areia. Ela não vê problema nisso, contanto que seu irmão gêmeo, Lugh, esteja por perto. Mas, quando uma gigantesca tempestade chega trazendo quatro cavaleiros de mantos negros em seu rastro, tudo que Saba sempre conheceu é destruído. Lugh é capturado e Saba então embarca em uma perigosa jornada para recuperá-lo. Repentinamente jogada na realidade selvagem e sem lei do mundo além da Lagoa da Prata, Saba não sabe o que fazer sem Lugh para guiá-la. Por isso, talvez a maior surpresa seja o que a jovem descobre sobre si mesma: é uma lutadora incansável, uma sobrevivente feroz e uma oponente perspicaz. Com a ajuda de um audacioso e atraente fugitivo e de uma gangue de garotas revolucionárias chamadas Gaviãs Livres, Saba se tornará a protagonista de um confronto que vai mudar o destino de sua civilização.
Caminhos de Sangue é o tipo de livro que vai fazer você amá-lo ou odiá-lo, sem meio termo. Digo isso, pois sua trama é marcante e forte. O que eu digo, logo de início, é: UAU! Sim, pois Moira Young me surpreendeu com esta distopia inusitada.

Caminhos de Sangue é narrado em primeira pessoa, pela visão de Saba. Este é um ponto muito importante no livro, pois é este fator que vai fazer você decidir se vai largá-lo ou seguir em frente (amá-lo ou odiá-lo, como disse a pouco). Mas eu afirmo: vale a pena seguir adiante com a leitura.

A narrativa é uma das mais criativas que já vi, e neste ponto, Moira Young está de parabéns. Isso porque o livro é narrado com a linguagem simples de Saba. Vou dar um exemplo: "eu tô precisano... eu tô gostano..." este é o estilo de escrita utilizado.

Confesso que de início fiquei um tanto incomodada com este fator. Realmente é um pouco difícil você ver um livro que seja narrado e escrito da forma "errada", usando a linguagem que se fala, e não a que se escreve, com a gramática impecável e correta. Mas este incomodo não durou muito, aliás, com o andar da leitura, nem se percebe tanto. Pelo menos para mim a narrativa funcionou muito bem e teve o efeito que a autora desejava: tornar a personagem Saba mais forte e real. Afinal, ela é uma garota simples, sem estudos, que não sabe ler ou escrever... e claro, consequentemente, faz uso de uma linguagem simples e popular. Isso aproxima o leitor da personagem, de seus pensamentos e sentimentos.

Acho que para muitas pessoas este pode ser o fracasso do livro, mas em minha opinião é exatamente o que o torna único e especial, além de dar mais credibilidade para a história. Em pouco tempo me vi totalmente imersa nos acontecimentos que envolvem Saba e todos aqueles que ela encontrará e enfrentará pelo caminho. A narrativa peculiar, então, pode ser considerado o ponto forte do livro.

Saba é uma garota forte, determinada, corajosa, e... cabeça dura. Uma personagem maravilhosa! Arrisco dizer que é uma das minhas heroínas favoritas no mata-mata das séries distópicas. A garota não mede esforços para alcançar seus objetivos, que é, de início (e principalmente), encontrar seu irmão Lugh, que foi sequestrado pelos Tonton, cavaleiros misteriosos e implacáveis vestidos de negro. O legal, é que Saba não fica estagnada... Em muitos momentos ela é um pouquinho irritante em sua teimosia e orgulho, mas esta é umas das características que a tornam uma personagem sem igual. Podemos acompanhar no decorrer da trama toda a sua evolução, que nos mostra uma garota que não conhecia nada do mundo em que vivia transformando em uma mulher forte e guerreira.

Outra personagem de peso é a irmã de Saba, Emmi, que tem apenas 9 anos de idade... mas cara, a menina é muito determinada. Tão teimosa quanto a irmã, a menina tem garra e consegue seguir em frente, mesmo com todo o perigo que a cerca. Além disso, Emmi é de fundamental importância para o desenvolvimento de Saba na história (assim como de outros personagens). Outro ponto bacana é ver o elo entre as irmãs se estreitando e solidificando. Considero Emmi  uma das minhas personagens favoritas em Caminhos de Sangue.

Outro destaque fica para Jack, o rapaz misterioso que cruza o caminho de Saba e faz seu coração aquecer. Ela tem tudo para desconfiar dele, mas apesar do rapaz esconder segredos, ele é tudo o que aparenta ser: uma boa pessoa. Forte, inteligente, e destemido, Jack é uma pitadinha de graça na vida de Saba (e na nossa também). O humor ácido que os une é delicioso, e a atração inegável que cresce a cada dia entre os dois, cria um clima muito bom. Mas não se preocupe, o livro não tem romance do tipo meloso, na verdade o romance na história é bem discreto. Se você gosta de um romance na trama, não vai se decepcionar... mas se não gosta, pode ter certeza que apesar de Saba e Jack formarem um par romântico, isto não afeta em nada o andamento da história, ou o torna chata.

As Gaviãs Livres também merecem ter um espaço nesta resenha, pois tem um peso estratégico nos planos de Moira Young. E claro, uma gangue de moças lindas e guerreiras garante ao livro cenas ótimas. Entre tantos outros personagens que merecem destaque, menciono por último o Nero. Ele é o corvo de Saba. Inteligente e muito expressivo, também tem um papel fundamental na trama, além de enfeitar as páginas do livro.

Moira Young me surpreendeu com sua narrativa diferenciada, e com uma distopia totalmente original. O clima do livro é delicioso. Além da trama forte, o livro conta com ótimas cenas de luta, e outras cenas de ação de tirar o fôlego. A autora também soube explorar muito bem toda a potencialidade dos personagens. Mas aviso: se você espera encontrar uma distopia cheia de fantasia e bláblábblá, aqui você literalmente "cai do cavalo". Caminhos de Sangue nos apresenta uma realidade dura e cruel, com inimigos sem piedade alguma. A autora é direta e certeira. Moira também nos faz refletir com criticas sociais, como o tráfego de drogas, monarquia, escravidão, entre outros; além de nos fazer pensar sobre diversos assuntos como as consequências das ações tomadas, os caminhos que a vida pode tomar, amor, determinação, etc. A autora cria um livro marcante e imperdível.

Apesar de este ser o primeiro volume de uma trilogia, Caminhos de Sangue tem começo, meio e fim... deixando apenas poucas pontas soltas e alguns questionamentos a serem solucionados. Mas termina de forma satisfatória, sem criar grande ansiedade para o próximo livro. Aliás, não vou me aprofundar na trama, pois eu comecei a ler o livro sem expectativas, sem saber o que esperar, e isto foi ótimo pois me surpreendi, como disse no início da resenha. Tudo o que vocês precisam saber é que Caminhos de Sangue é um livro que vale muito a pena ler.